Entre o 'conto de fadas' e a redenção, Borussia e Bayern fazem final alemã
Auto-denominado o franco atirador da decisão de Wembley, Dortmund considera título um sonho. Bávaros lutam contra trauma de um novo vice
O Borussia Dortmund se mobilizou para
fazer de sua presença em Londres um verdadeiro "conto de fadas". Uma
"hashtag" com a expressão em inglês incentivava em cada mensagem nas
redes sociais o torcedor a viver um momento, senão único, talvez até mais
especial do que quando conquistou o primeiro e único título da Liga dos
Campeões, em 1997. O Bayern de Munique, por outro lado, trata a decisão deste
sábado, no lendário estádio de Wembley, a partir das 15h45m (de Brasília), com
a cautela de quem mais chorou do que sorriu. Um grande sentimento de obrigação
pela excelente temporada e forte poderio financeiro convive com a possibilidade
de novo trauma por conta dos dois vice-campeonatos nos últimos três anos.
Definitivamente uma inédita final alemã cercada de expectativa, mas também com
um favorito.
Os bávaros
estão atrás de um quinto título. O último deles veio em 2001, depois de um
longo hiato sem festejar a Champions, já que brilhou de forma consecutiva nos
anos 70. Foram vice-campeões em cinco oportunidades, a penúltima em 2010, para
o Internazionale de Milão, no Santiago Bernabéu. As duas recentes decepções em
especial colocaram em dúvida o perfil vencedor da atual geração, de
Schweinsteiger, Ribéry, Robben, entre outros, que faturou todos os outros
títulos disponíveis, mas esbarrou no mais desejado deles.
- Jogamos
muito bem no ano passado. É claro que do jeito que aconteceu nós não gostamos
em particular, mas teremos de ser mais rigorosos e estamos fazendo as coisas
certas - afirmou o meia Thomas Müller, com discurso acompanhado pelo capitão
Philipp Lahm.
- Não há
garantia sobre ganhar o título, mas nós estamos muito mais maduros no nosso
jogo e nos desenvolvemos muito bem. Não há razão para não acontecer - disse o
lateral-direito.
O revés para o Chelsea ainda soa como amargo, mas um triunfo em Wembley
certamente apagaria tudo isso. O estádio receberá a sua oitava final de Liga
dos Campeões e, pela primeira vez, verá um campeão alemão. Antes de a bola
rolar, é o país que se notabiliza pelo seu sucesso. Uma vitória do
nacionalismo, uma vitória para a chanceler Angela Merkel perante uma Europa
rendida ao poderio da Alemanha. Mas os torcedores não querem saber de
patriotismo na hora de levantar a taça.
A final pode ser germânica, mas a rivalidade entre Bayern e Borussia
parece ser mais forte do que o orgulho nacional, fato evidenciado no empate por
1 a 1 pelo Campeonato Alemão, há três semanas, quando, ao término da partida,
Matthias Sammer, diretor esportivo do Bayern, e Jürgen Klopp, atual treinador
do Borussia, se desentenderam e quase saíram no tapa.
Embora no
futebol ninguém ganhe algo na véspera, o Bayern de Munique iniciará o confronto
como o grande favorito. Até o príncipe William quer ver Lahm erguer o troféu.
Outros pesos pesados do futebol mundial, como Zidane, Cafú e o presidente
honorário do time, Franz Beckenbauer, também veem o Bayern na frente. Na
coletiva que antecedeu a final, Thomas Müller e Jupp Heynckes não fugiram do
tema. O técnico disse que os bávaros iriam ganhar. Já o meia deixou claro que o
time não tem fraquezas.
A
afirmação de Müller - sempre pôlemico diante da imprensa - causou algum
incomodo aos jornalistas presentes na sala. A verdade é que os números lhe dão
razão. Vencer o Campeonato Alemão com 20 pontos de vantagem sobre o rival
direto, Borussia Dortmund, não é para qualquer um. Mais espantoso ainda foi ver
o Bayern a atropelar Juventus e Barcelona no mata-mata (os catalães por um
placar de 7 a 0 no agregado). O Dortmund, por sua vez, sofreu para eliminar o
Malága e o Real Madrid até ao último minuto.
Para
esquentar ainda mais o clima da decisão, a maior revelação do futebol alemão, o
meia Mario Götze, foi vendido pelo Borussia ao Bayern em abril. Ele poderia se
despedir do clube que o revelou neste sábado, mas uma lesão sofrida na
semifinal diante do Real Madrid o impediu de entrar em campo. Ao menos foi essa
a explicação oficial dos aurinegros, receosos quanto à forte pressão que
sofreria o jogador de 20 anos.
Klopp, no
entanto, já sabia que não contaria com Götze. Treinou a equipe há três semanas
mantendo a sua filosofia conhecida como o "gegenpressing", de
explicação simples, mas funcionamento complexo. Em suma: realizar a transição
rápida a partir do momento em que rouba a bola, seja no campo defensivo ou
ofensivo.
Ambas as
equipes têm um coletivo forte, mas o Bayern possui mais jogadores capazes de
resolver o jogo. Uma vez mais, são os números que comprovam: Müller é o
goleador do time na Champions com oito gols; Mandzukic, o centroavante titular,
fez dois, mas os reservas Pizarro e Mario Gómez contribuíram seis vezes. Toni
Kroos, Schweinsteiger, Alaba, Arjen Robben e Ribéry também foram decisivos com
gols e assistências durante a competição.
Do lado dos comandados de Klopp, Lewandowski é a máxima esperança. O artilheiro polonês é o vice-artilheiro, com dez gols, apenas atrás de Cristiano Ronaldo, com 12. Em seguida estão os jovens Marco Reus, com quatro, e Mario Gotze, com dois gols.
Do lado dos comandados de Klopp, Lewandowski é a máxima esperança. O artilheiro polonês é o vice-artilheiro, com dez gols, apenas atrás de Cristiano Ronaldo, com 12. Em seguida estão os jovens Marco Reus, com quatro, e Mario Gotze, com dois gols.
Diferenças do
jogo
A Bavária é a região mais rica da Europa e por consequência da Alemanha. Muito comum, portanto, que o clube local também seja o mais rico do país. O Bayern de Munique tem à disposição cerca de € 360 milhões por ano, contra menos de € 200 milhões do rivais. Consequentemente, em Munique os jogadores podem ganhar o dobro, daí o interesse das jóias de Klopp buscarem uma transferência para o sul da Alemanha. Aconteceu com Götze e pode acontecer com Lewandowski. Tudo isso antes mesmo de Pep Guardiola assumir o comando técnico do clube.
A Bavária é a região mais rica da Europa e por consequência da Alemanha. Muito comum, portanto, que o clube local também seja o mais rico do país. O Bayern de Munique tem à disposição cerca de € 360 milhões por ano, contra menos de € 200 milhões do rivais. Consequentemente, em Munique os jogadores podem ganhar o dobro, daí o interesse das jóias de Klopp buscarem uma transferência para o sul da Alemanha. Aconteceu com Götze e pode acontecer com Lewandowski. Tudo isso antes mesmo de Pep Guardiola assumir o comando técnico do clube.
Com todas
as probabilidades, estatísticas e montantes a favor dos bávaros, o Borussia se
agarra no retrospecto recente para acreditar na vitória. Nos últimos nove jogos
contra o rival, venceu em cinco oportunidades, incluindo na final da Copa da
Alemanha há um ano, também num estádio neutro - Berlim. Acumulou ainda mais
dois empates e duas derrotas.
- Eu não
posso dizer que o que os jogadores do Bayern pensam ou se eles têm medo de
perderem pela terceira vez em quatro anos. Se as pessoas que correm por fora
não sentem a mesma pressão do que os favoritos, o quão estúpido seria isso?
Você precisa se concentrar na tarefa. As pessoas escalaram o Monte Everest e
sabem que a dez metros do topo eles talvez tivessem de voltar, mas tentaram do
mesmo jeito - disse Klopp.
Nenhum comentário:
Postar um comentário